Por Thomas Watson
O
arrependimento é uma graça do Espírito de Deus por meio da qual um pecador é
humilhado em seu íntimo e transformado em seu exterior. A fim de proporcionar
melhor entendimento, saiba que o arrependimento é um remédio espiritual formado
de seis componentes especiais… Se um for deixado fora, o arrependimento perde o
seu poder.
Componente 1: Percepção
do pecado. A primeira parte do remédio de Cristo são olhos abertos (At 26.18).
Este é um dos fatos importantes a observarmos no arrependimento do filho
pródigo: ele caiu em si (Lc 15.17). Ele se viu como pecador e nada mais do que
um pecador. Antes que um homem venha a Cristo, ele tem primeiramente de vir a
si mesmo. Em sua descrição de arrependimento, Salomão considerou isto como o
primeiro componente: “Caírem em si” (1 Rs 8.47). Uma pessoa deve, antes de
tudo, reconhecer e considerar o que é o seu pecado e conhecer a praga de seu
coração, antes que seja devidamente humilhado por ela. A primeira coisa que
Deus criou foi a luz. Portanto, a primeira coisa que deve haver em uma pessoa
arrependida é a iluminação. “Agora, sois luz no Senhor” (Ef 5.8). Os olhos são
feitos tanto para ver como para chorar. Antes de lamentarmos pelo pecado, temos
de vê-lo. Disso, podemos inferir que, onde não percepção do pecado, não pode
haver arrependimento. Muitos que acham falhas nos outros não vêem nenhum erro
em si mesmos… Pessoas são vendadas por ignorância e amor próprio. Por isso, não
vêem o que deforma a sua alma. O Diabo faz com elas como o falcoeiro faz à sua
ave: ele as cega e as leva encapuzadas ao inferno.
Componente 2: Tristeza
pelo pecado. “Suporto tristeza por causa do meu pecado” (Sl 38.18). Ambrósio
chamava essa tristeza de amargura da alma. A palavra hebraica que se traduz por ficar triste significa “ter a alma, por assim
dizer, crucificada”. Isso precisa estar presente no verdadeiro arrependimento.
“Olharão para aquele a quem traspassaram… e chorarão” (Zc 12.10), como se
sentissem os cravos da cruz penetrando o seu lado. Uma mulher pode esperar ter
um filho sem dores, assim como alguém pode esperar arrepender-se sem tristeza.
Aquele que crê sem duvidar, põe sob suspeita a sua fé; aquele que se arrepende
sem entristecer-se nos deixa incertos de seu arrependimento… Esta tristeza pelo
pecado não é superficial; é uma agonia santa. Nas Escrituras, ela é chamada de
quebrantamento de coração: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito
quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl
51.17); um rasgamento do coração: “Rasgai o vosso coração” (Jl 2.13). As
expressões bater no peito (Jr 31.19; Lc 18.13), cingir o cilício (Is 22.12),
arrancar os cabelos (Ed 9.3) – todas essas expressões são apenas sinais
exteriores de tristeza.
Essa tristeza implica (1) tornar a Cristo precioso.
Oh! quão precioso é o Salvador para uma alma atribulada! Agora, Cristo é, de
fato, Cristo; e a misericórdia é realmente misericórdia. Enquanto o coração não
estiver repleto de compunção, ele não estará pronto para o arrependimento. Quão
bem-vindo é um cirurgião para um homem que sangra por suas feridas! (2) Implica repelir o pecado. O pecado gera tristeza, e a
tristeza mata o pecado… A água salgada das lágrimas mata o verme da
consciência. (3) Implicapreparar-se
para receber firme consolo. “Os
que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão” (Sl 126.5). O penitente tem uma
semeadura de lágrimas, mas uma colheita deliciosa. O arrependimento rompe os
abscessos do pecado, e, em seguida, a alma fica tranqüila… O ato de Deus em
afligir a alma por causa do pecado é como o agitar da água que trazia cura, no
tanque (Jo 5.4)
Contudo,
nem toda tristeza evidencia o verdadeiro arrependimento… o que é esse
entristecer piedoso? Há seis descrições:
1. A verdadeira tristeza espiritual é
interior. É interior
em duas maneiras: (1) é uma tristeza de coração. A tristeza dos hipócritas
evidencia-se somente em sua face. “Desfiguram o rosto” (Mt 6.16). Mostram um
rosto melancólico, mas a tristeza deles não vai além disso, como o orvalho que
umedece a folha, mas não penetra a raiz. O arrependimento de Acabe foi uma
exibição exterior. Seus vestidos foram rasgados, mas não o seu espírito (1 Rs
21.27). A tristeza segundo Deus avança mais além; é como uma veia que sangra
internamente. O coração sangra por causa do pecado – “Compungiu-se-lhes o
coração” (At 2.37). Assim como o coração tem a parte principal no ato de pecar,
o mesmo deve acontecer no caso do entristecer-se. Paulo lamentava por causa da
lei em seus membros (Rm 7.23). Aquele que lamenta verdadeiramente o pecado se
entristece por conta das incitações do orgulho e da concupiscência. Ele se
entristece por causa da “raiz de amargura”, embora ela nunca prospere até ao
ponto de levá-lo a agir. Um homem ímpio pode sentir-se atribulado por pecados
escandalosos; um verdadeiro convertido lamenta os pecados do coração.
2. A tristeza espiritual é sincera. É a tristeza pela ofensa, e não pela
punição. A lei de Deus foi infringida, e seu amor, abusado. Isso leva a alma às
lágrimas. Uma pessoa pode ficar triste e não se arrepender. Um ladrão fica
triste quando é apanhado, mas não por causa do roubo, e sim porque tem de
sofrer a pena… A tristeza piedosa se expressa principalmente por causa da
transgressão contra Deus. Portanto, se não houvesse uma consciência a ferir,
uma diabo a acusar, um inferno para servir de castigo, a alma ainda se sentiria
triste por causa da ofensa praticada contra Deus… Oh! que eu não ofenda o meu
bom Deus, nem entristeça o meu Consolador! Isso parte o meu coração!…
3. A tristeza espiritual Deus é repleta
de confiança. É
mesclada com fé… A tristeza bíblica afundará o coração, se a roldana da fé não
o erguer. Assim como o nosso pecado está sempre diante de Deus, assim também a
promessa de Deus tem de estar sempre diante de nós…
4. A tristeza espiritual é uma grande
tristeza. “Naquele
dia, será grande o pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadade-Rimom” (Zc
12.11). Dois sóis se puserem no dia em que Josias morreu, e houve um enorme
lamento fúnebre. A tristeza pelo pecado deve chegar a esse nível.
5. A tristeza espiritual é, em alguns
casos, acompanhada de restituição. Aquele que, por injustiça, errou
contra outrem, em seus bens, lidando com fraude, deve em sã consciência
realizar a compensação. Há um mandamento claro quanto a isso: “Confessará o
pecado que cometer; e, pela culpa, fará plena restituição, e lhe acrescentará a
sua quinta parte, e dará tudo àquele contra quem se fez culpado” (Nm 5.7). Por
isso, Zaqueu fez restituição: “Se nalguma coisa tenho defraudado alguém,
restituo quatro vezes mais” (Lc 19.8).
6. A tristeza espiritual é permanente. Não são algumas lágrimas derramadas
ocasionalmente que servirão. Alguns derramarão lágrimas ao ouvirem um sermão,
mas isso é como uma chuva de abril – logo acaba – ou como uma veia aberta e
fechada novamente. A verdadeira tristeza tem de ser habitual. Ó cristão, a
doença de sua alma é crônica, e a recaída, freqüente. Portanto, você tem de
tratar-se com remédio continuamente, por meio do arrependimento. Essa é a
tristeza “segundo Deus”.
Componente 3: Confissão
de pecado. A tristeza é um sentimento tão forte, que terá expressões. Suas
expressões são lágrimas nos olhos e confissão nos lábios. “Os da linhagem de
Israel… puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados” (Ne 9.2).
Gregório de Nazianzo chamou a confissão de “um bálsamo para a alma ferida”.
A
confissão é auto-acusadora. “Eu é que pequei” (2 Sm 24.17)… E a verdade é que
por meio desta auto-acusação impedimos Satanás de acusar-nos. Em nossas
confissões, nos identificamos com orgulho, infidelidade e paixão. Assim, quando
Satanás, chamado de acusador dos irmãos, lançar essas coisas contra nós, Deus
lhe replicará: “Eles já acusaram a si mesmos. Então, Satanás, você está
destituído de motivos legítimos; suas acusações surgiram muito tarde…” Agora,
ouça o que diz o apóstolo Paulo: “Se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos
julgados” (1 Co 11.31).
Entretanto,
homens ímpios, como Judas e Saul, não confessaram seus pecados? Sim, mas as
suas confissões não eram verdadeiras. Para que a confissão de pecado seja
correta e genuína, estas… qualificações precisam estar presentes:
1. A confissão tem de ser espontânea. Tem de surgir como a água que brota do
manancial, livremente. A confissão do ímpios é obtida à força, como a confissão
de um homem sob tortura. Quando uma faísca da ira de Deus atinge a consciência
dos ímpios ou estão sob o temor da morte, eles se prostrarão em confissão… Mas
a verdadeira confissão flui dos lábios tal como a mirra jorra da árvore ou o
mel da colméia, espontaneamente…
2. A confissão tem ocorrer com contrição. O coração precisa ressentir
profundamente o pecado. As confissões de um homem natural procede de seu íntimo
assim como uma água que passa por um cano. Elas não o afetam de maneira alguma.
Mas a confissão verdadeira deixa impressões que pungem o coração. Ao confessar
seus pecados, a alma de Davi sentiu-se sobrecarregada: “Já se elevam acima de
minha cabeça as minhas iniqüidades; como fardos pesados, excedem as minhas
forças” (Sl 38.4). Uma coisa é confessar o pecado, outra coisa é sentir o
pecado.
3. A confissão tem de ser sincera. Nosso coração precisa estar em
harmonia com a confissão. O hipócrita confessa o pecado, mas o ama, assim como
um ladrão que confessa os bens roubados e continua a amar o roubo. Quantos
confessam o orgulho e a cobiça, com seus lábios, mas se deleitam neles
ocultamente… Um verdadeiro cristão é mais honesto. Seu coração anda em harmonia
com usa língua. Ele é convencido dos pecados que confessa e detesta os pecados
dos quais é convencido.
4. Na confissão verdadeira, o crente
especifica o pecado. O
ímpio reconhece que é um pecador como todos os outros. Ele confessa o pecado de
maneira geral… Um verdadeiro convertido reconhece seus pecados específicos. Ele
se comporta à semelhança de uma pessoa enferma que vai ao médico e lhe mostra
as feridas, dizendo: “Levei um corte na cabeça, recebi um tiro no braço”. O
pecador entristecido confessa as diversas imperfeições de sua alma… Por meio de
uma inspeção diligente de nosso coração, podemos achar alguns pecados
específicos que tratamos com indulgência. Confessemos com lágrimas esses
pecados, indicando-os pelo nome.
5. Um pessoa verdadeiramente arrependida
confessa o pecado em sua fonte. Ela
reconhece a contaminação de sua natureza. O pecado de nossa natureza não é
somente uma falta do bem, mas também uma infusão do mal… Nossa natureza é um
abismo e uma fonte de todo mal, dos quais procedem os escândalos que infestam o
mundo. É essa depravação de natureza que envenena nossas coisas santas. Isso
traz os juízos de Deus e paralisa em sua origem as nossas misericórdias. Oh!
Confesse o pecado em sua fonte!…
Componente 4: Vergonha
pelo pecado. O quarto componente no arrependimento é a vergonha. “Para que… se
envergonhe das suas iniqüidades” (Ez 43.10). O envergonhar-se é a força da
virtude. Quando o coração se enegrece por causa do pecado, a graça faz o rosto
envergonhar-se com rubor – “Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a
face” (Ed 9.6). O filho pródigo, arrependido, ficou tão envergonhado de seus
excessos que se julgava indigno de ser, outra vez, chamado filho (Lc 15.21). O
arrependimento causa um acanhamento santo. Se Cristo não estivesse no coração
do pecador, não haveria tanta vergonha se expressando no rosto. Há… algumas
considerações sobre o pecado que nos causa vergonha:
1. Todo
pecado nos torna culpados, e a culpa nos deixa envergonhados.
2. Em
todo pecado, há muita ingratidão. E essa é a razão da vergonha. Abusar da
bondade de Deus, como isso nos envergonha!… Ingratidão é um pecado tão grave,
que Deus mesmo se admira dele (Is 1.2).
3. O
pecado mostra o que somos, e isso nos causa vergonha. O pecado nos rouba as
vestes de santidade. E nos deixa destituídos de pureza, deformados aos olhos de
Deus; e isso nos envergonha…
4.
Nossos pecados expuseram Cristo à vergonha. E não nos envergonharemos deles?
Vestimos a púrpura; não vestiremos o carmesim?
5.
Aquilo que nos deixa envergonhados é o fato de que os pecados que cometemos são
piores do que os pecados dos incrédulos. Agimos contra a luz que possuímos.
6.
Nossos pecados são piores do que os pecados dos demônios. Os anjos caídos nunca
pecaram contra o sangue de Cristo. Cristo não morreu por eles… Com certeza, se
sobrepujamos o pecado dos demônios, isso deve nos causar muita vergonha.
Componente 5: Ódio pelo
pecado. O quinto componente do arrependimento é o ódio pelo pecado. Os eruditos
distinguem dois tipos de ódio: o ódio das iniqüidades e o ódio da inimizade.
Primeiramente, há um ódio ou abominação das iniqüidades. “Tereis nojo de vós mesmos por causa das
vossas iniqüidades e das vossas abominações” (Ez 36.31). Um cristão
verdadeiramente arrependido é alguém que detesta o pecado. Se uma pessoa
detesta aquilo que faz seu estômago adoecer, ela deve, com muito mais
intensidade, detestar aquilo que deixa enferma a sua consciência. É mais fácil
abominar o pecado do que deixá-lo… Não amamos a Cristo enquanto não odiamos o
pecado. Nuca anelamos o céu enquanto não detestamos o pecado.
Em segundo, há um ódio da inimizade. Não há melhor maneira de descobrir vida do que
por meio do movimento. Os olhos se movem, o pulso bate. Portanto, para
constatar o arrependimento, não há sinal melhor do que uma antipatia santa para
com o pecado… O arrependimento correto começa no amor a Deus e termina no ódio
ao pecado.
Como
podemos discernir o verdadeiro ódio para com o pecado?
1. Quando a pessoa se mantém resoluta
contra o pecado. A
língua lamenta amargamente o pecado, e o coração o odeia, de modo que, embora o
pecado se apresente de forma atraente, nós o achamos detestável e o abominados
com ódio mortal, sem levarmos em conta a sua aparência agradável… O diabo pode
vestir e disfarçar o pecado com prazer e proveito, mas um verdadeiro penitente,
que tem ódio secreto pelo pecado, sente repulsa e não se envolverá nele.
2. O verdadeiro ódio pelo pecado é
abrangente. Isso se
aplica a dois aspectos: no que diz respeito às faculdades e ao objeto. (a) O
ódio pelo pecado é abrangente no que concerne às faculdades da alma, ou seja,
há um desgosto para com o pecado não somente no juízo, mas também na vontade e
nas afeições. Há alguns que são convencidos de que o pecado é maligno e, em seu
juízo, têm uma aversão para com ele. Mas acham-no agradável e têm satisfação
íntima nele. Nesse caso, há um desprazer do pecado no juízo e um aceitação dele
nas afeições. No verdadeiro arrependimento, o ódio pelo pecado está presente em
todas as faculdades da alma; não somente no intelecto, mas, principalmente, na
vontade. “Não faço o que prefiro, e sim o que detesto” (Rm 7.15). Paulo não era
livre do pecado, mas a sua vontade se posicionava contra o pecado. (b) O ódio
pelo pecado é abrangente no que concerne ao objeto. Aquele que odeia um pecado
odeia todos… Os hipócritas odeiam alguns pecados que mancham sua reputação, mas
o verdadeiro convertido odeia todos os pecados: os pecados que produzem
vantagem, os pecados resultantes de nossas inclinações naturais, as próprias
instigações da corrupção. Paulo odiava as obras do pecado (Rm 7.23).
3. O verdadeiro ódio pelo pecado se
manifesta contra o pecado em todas as suas formas. Um coração santo detesta o pecado por
causa de sua contaminação natural. O pecado deixa uma mancha na alma. Uma
pessoa regenerada aborrece o pecado não somente por causa da maldição, mas
também por causa do contágio. Ele odeia essa serpente não somente por causa de
sua picada, mas também por causa de seu veneno. Abomina o pecado não somente por
causa do inferno, mas como o próprio inferno.
4. O verdadeiro ódio pelo pecado é
implacável. O cristão
genuíno nunca mais se conciliará com o pecado. A ira pode experimentar
conciliação, porém o ódio não pode experimentá-la…
5. Onde há verdadeiro ódio pelo pecado,
nos opomos ao pecado em nós mesmos e nos outros. A igreja de Éfeso não podia suportar
aqueles que eram maus (Ap 2.2). Paulo repreendeu arduamente Pedro por causa de
sua dissimulação, embora este fosse um apóstolo. Com insatisfação santa, Cristo
expulsou os cambistas do templo (Jo 2.15). Ele não tolerou que o templo
sofresse uma mudança. Neemias repreendeu os nobres por sua usura (Ne 5.7) e
pela profanação do sábado (Ne 13.17). Aquele que odeia o pecado não suportará a
iniqüidade em sua família – “Não há de ficar em minha casa o que usa de fraude”
(Sl 101.7). Que vergonha se manifesta quando os magistrados mostram força de
espírito em suas paixões e nenhum heroísmo em suprimir o erro! Aqueles que não
tem qualquer antipatia para com o pecado não conhecem o arrependimento. O
pecado está neles como o veneno está em uma serpente e, por ser natural, lhe
proporciona deleite.
Quão
distantes estão do arrependimento aqueles que, ao invés de odiarem o pecado,
amam-no! Para os santos, o pecado é um espinho nos olhos; para os ímpios, é uma
coroa na cabeça – “Que direito tem na minha casa a minha amada, ela que cometeu
vilezas? Acaso, ó amada, votos e carnes sacrificadas poderão afastar de ti o
mal? Então, saltarias de prazer” (Jr 11.15). Amar o pecado é pior do que
praticá-lo. Um homem bom pode precipitar-se cair em uma atitude pecaminosa, mas
amar o pecado é desesperador. O que faz um porco amar o revolver-se na lama? O
que faz um demônio amar aquilo que se opõe a Deus? Amar o pecado mostra que a
vontade está no pecado; e, quanto mais a vontade estiver no pecado, tanto maior
ele será. A obstinação faz com que não haja mais purificação para o pecado (Hb
10.26). Oh! quantos existem que amam o fruto proibido! Amam as imprecações e os
adultérios. Amam o pecado e odeiam a repreensão… Portanto, quando os homens
amam o pecado, apegam-se àquilo que será a sua morte e brincam com a
condenação, isso indica que “o coração dos homens está cheio de maldade” (Ec
9.3). Isso nos persuade a mostrar nosso arrependimento por meio de um ódio
amargo para com o pecado…
Componente 6: Converter-se
do pecado. O sexto componente no arrependimento é converter-se do pecado… Esse
converter-se é chamado de abandonar o pecado (Is 55.7), tal como um homem que
abandona a companhia de um ladrão ou de um feiticeiro. É chamado de lançar para
longe o pecado (Jó 11.14), como Paulo lançou de si aquela víbora, atirando-a ao
fogo (At 28.5). Morrer para o pecado é a vida do
arrependimento. No
mesmo dia em que o crente se converte do pecado, deve se regozijar com um gozo
eterno. Os olhos devem fugir de vislumbres impuros. O ouvido tem de fugir dos
escárnios. A língua, do praguejamento. As mãos, dos subornos. Os pés, dos
caminho das meretrizes. E alma, do amor à impiedade.
Esse
converter-se do pecado implica uma mudança notável. Converter-se do pecado é
tão visível, que os outros podem percebê-lo. Por isso, é chamado de uma mudança
das trevas para a luz (Ef 5.8). Paulo, depois de ter recebido a visão
celestial, ficou tão diferente, que todos se admiraram da mudança (At 9.12). O
arrependimento transformou o carcereiro em um enfermeiro e médico (At 16.33).
Ele cuidou dos apóstolos, lavou-lhes as feridas e serviu-lhes comida. Um navio
se dirige ao leste; e o vento muda seu rumo para o oeste. De modo semelhante,
um homem se encaminhava para o inferno, mas o vento contrário do Espírito
soprou, mudou o seu rumo e o fez andar em direção ao céu… Essa mudança visível
que o arrependimento produz em uma pessoa é como se outra alma se abrigasse no
mesmo corpo.
Para
identifica corretamente o converter-se do pecado, essas poucas coisas são
necessárias:
1. Tem de haver um volver-se sinceramente
do pecado. O coração
é o primum vivens, a primeira coisa que vive. E
tem de ser o primum vertens, a primeira coisa que se volve. O coração é aquilo
por que o Diabo se empenha arduamente… No cristianismo, o coração é tudo. Se o
coração não é convertido do pecado, ele não passa de uma mentira… Deus quer
todo o coração convertido do pecado. O verdadeiro arrependimento não pode ter
reservas nem outros ocupantes.
2. Tem de haver um volver-se de todo
pecado. “Deixe o
perverso o seu caminho” (Is 55.7). Uma pessoa verdadeiramente arrependida
abandona o caminho do pecado. Ela deixa todo pecado… Aquele que esconde um
subversivo em sua casa é um traidor da nação. E aquele que satisfaz um pecado é
um hipócrita traiçoeiro.
3. Tem de haver um volver-se do pecado
por motivos espirituais. Um
homem pode restringir seus atos de pecados e não converter-se do pecado da
maneira correta. Atos de pecados podem ser restringidos por temor ou desígnio,
mas uma pessoa verdadeiramente arrependida deixa o pecado com base em um
princípio espiritual, ou seja, o amor de Deus… Três homens perguntaram um ao
outro o que os fizera abandonar o pecado. Um disse: “Acho que são as alegrias
do céu”. Outro respondeu: “Acho que são os tormentos do inferno”. Mas o
terceiro disse: “Acho que é o amor de Deus; e isso ainda me faz abandonar o
pecado. Como eu ofenderia o amor de Deus?”
Fonte: Monergismo
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